terça-feira, 3 de junho de 2008

o mapa do tesouro

Li em alguma revista que, enquanto os adultos que vivem ao relento geralmente não têm nada além da roupa do corpo, os meninos de rua são muito ciosos de suas posses. Pode ser um brinquedo velho, um tênis que não serve mais, um toco de lápis, um maço de cigarros... Eles procuram frestas e buracos no concreto e escondem todas essas preciosidades lá no fundo, livres de olhares cobiçosos. De quando em quando, voltam ao esconderijo, conferem se tudo está nos conformes, adicionam mais um ou outro bem encontrado por aí. Certo dia, colocam tudo num saco e carregam sua fortuna para outro lugar, pois aprenderam nas ruas que o movimento constante é uma prerrogativa da sobrevivência.
E eu, que pela janela do ônibus observo um mendigo de quem a vida tirou até os dentes, me pergunto em que momento exatamente aquele ex-menino esqueceu o caminho até o seu tesouro. Ou, simplesmente, abriu mão de tudo.
Sim, esse é o momento definitivo de uma vida.
Depois, restam esses dias acinzentados pela saudade ninguém sabe de quê e dedicados a uma busca sem fim.
Em cada fresta, em cada buraco da cidade, o túmulo de um sonho. E eu me pergunto, sem grandes esperanças, onde foi mesmo que eu enterrei o meu.