sábado, 29 de dezembro de 2007

Esquinas

Passaram-se mil anos.
Parece que foi ontem.
Como teria sido se...
Mas se rolar _e depois?
Ah, o depois.
E o passado.
Entrementes
O presente
Se esvai.

Por favor, solte minha mão.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Fábula

Essa é do tempo em que os bichos falavam e os cães eram amigos dos gatos.
Um príncipe, ainda menino, decidiu sair mundo afora em busca de aventuras e tesouros. O cão, seu fiel companheiro, logo se pôs a postos para a viagem.
A gata malhada, porém, pediu um tempo para pensar.
Vem com a gente, pediu o jovem príncipe. Em troca, ele prometia à doce bichana uma vida de rainha: rios de leite, almofadas de seda, vastos jardins.
Mas ela não se interessava por toda aquela riqueza.
Esse é seu sonho, respondeu. Não o meu.
Aquela atitude o exasperou. A gata, disse, era uma acomodada, uma covarde. Não tinha ambição, não tinha coragem, não tinha espírito aventureiro.
Fez um ultimato: ou ela ia com ele ou dava adeus à velha amizade.
No seu futuro reino, com rios de leite e almofadas de leite, ela, certamente, não seria bem recebida.
Ela o fitou longamente com seus grandes olhos verdes. "Eu aceitarei sua decisão", disse.
Na véspera da viagem, o príncipe mudou de tom. Humildemente, pediu à gata que fosse com ele porque, sem ela, ele não aguentaria. A floresta oferecia tantos perigos: bandidos, pântanos, desfiladeiros. Ele e o cão eram bravos, mas... Confessou: estava com medo.
Vocês conseguirão superar tudo isso, garantiu a gata malhada.
Talvez, retrucou o príncipe, mas de que adianta? Se você não estiver lá comigo, eu não conseguirei ser feliz.
Você será feliz, disse ela.
Na manhã seguinte, o reino acordou em festa. Bandeirolas e flores enfeitavam as casas e as ruas, tudo preparado para desejar boa sorte aos viajantes.
O príncipe atrasou a despedida o quanto pôde, esperando que a gata malhada enfim aparecesse para acompanhá-lo em sua aventura. Mas ela não apareceu.
Por fim, ele empinou seu cavalo baio e, furioso, partiu do reino encantado.
A partir de hoje, eu odeio gatos _vociferou.
Eu também _respondeu o cão, seu fiel escudeiro.
A gata malhada viu o menino sumir floresta adentro. E não disse mais nada.