quinta-feira, 24 de abril de 2008

Vida curta

A Simone me colocou numa enrascada... Pediu que eu fizesse uma lista com oito coisas que eu quero fazer antes de morrer.
Gente, eu fico terrivelmente indecisa mesmo diante de um simples cardápio de lanchonete! Fazer uma lista como essa vai muito além da minha capacidade de escolha...

Assim sendo, coloquei para mim mesma uma regra: as oitas coisas não precisam ser As Oito Coisas _categoria crème de la crème, pop of the pops, topo do mundo, as mais-mais.
Ufa!
Então, dentro do mol de coisas que ainda quero fazer ao longo da vida, aí vão oito. Algumas mais importantes, outras mais bobinhas, umas praticamente irrealizáveis. Sem ordem de preferência. Pescadas ao acaso nesse mar de desejos.

Ter filhos
versão "premium": e que eles não se transformem em seres histéricos e surtados na adolescência

Morar no exterior
versão "premium": sem precisar fazer apenas trabalhos reservados a imigrantes e podendo me dar ao luxo de visitar meu país sempre que bater aquela mega saudade

Aprender a cantar ou a dançar ou a tocar bem um instrumento
versão "premium": aprender a cantar & a dançar & a tocar bem um instrumento _bem dizer um espetáculo da Broadway ambulante

Chegar a um nível bacana de autoconhecimento que me permita ser mais compreensiva comigo mesma e com os outros
versão "premium": sem deixar de curtir o mistério e o incognoscível

Conseguir ter um fim de ano tranquilo com toda a minha família reunida e feliz
versão "premium": com fogos de artifício e champagne!

Escrever muitos muitos livros
versão "premium": e que eles sejam bem recebidos

Ler muitos muitos muitos muitos livros, incluindo calhamaços como "Em Busca do Tempo Perdido" e "Os Miseráveis"
versão "premium": e entender alguma coisa

Descobrir que meus amores platônicos foram correspondidos
versão "premium": sem qualquer arrependimento ou nostalgia, rir com eles de toda aquela timidez e dificuldade que a gente tinha para falar sobre nossos sentimentos

terça-feira, 15 de abril de 2008

Herança

Ela estava tão doida que mal conseguia pronunciar qualquer palavra com mais de três sílabas. Ainda assim, esforçava-se toda para contar uma história longa sobre sua infância e outros momentos marcantes.
E eu estava jogado por ali, sem forças sequer para me levantar ou responder qualquer coisa, o que me tornava, supostamente, um ótimo ouvinte. Até que apaguei.
Sol a pino, acordei com os gritos que vinham da praia. Parece que, após me confessar cada um de seus pecados, ela chegou à conclusão de que era melhor acabar com tudo de uma vez. Jogou-se no mar, de onde saiu azul e mordiscada sabe-se lá por que tipo de bicho.
Os amigos se desesperaram. Ela era feliz! Ela tinha tudo! Alguém me puxou pelos cabelos: O QUE ELA TE DISSE? O QUÊ?
Eu não me lembrava de nada.
Fui perseguido dias a fio por parentes da moça e curiosos em geral. Todos em busca de uma resposta para algo que, no fundo, todos nós tememos: qual é o limite?
Sinto como se Deus houvesse sussurrado um de seus segredos mais terríveis no meu ouvido. Só que eu estava bêbado demais para entender.
Talvez seja melhor assim.

sábado, 5 de abril de 2008

A jornada de Möbius



Enfim chegou o dia em que ele havia experimentado tudo, questionado tudo, entendido tudo e sentido tudo.
Ou quase tudo.
Pois nesse exato instante ele foi tomado por um sentimento que lhe era absolutamente novo: o pavor horripilante da eternidade que ainda se estendia à sua frente.