quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Scriptease


O que é a roupa, senão restrição?
"O decote revela..." Não. Ele cobre os seios.
"A minissaia exibe..." Engana-se. Ela esconde.
Mil vendas para que nossas fantasias sejam protegidas da terrível visão: nossa nudez, entenda, é pura tristeza.
Um corpo nu pode ser belo. Jovem. Rígido.
Mas nunca erótico.
Ou feliz.
Provocativo? Talvez.
Mas em outro sentido _se a intenção é chocar o cidadão puritano, por favor... há que se respeitar até a inteligência das senhorinhas carolas.
Não é choque, o que a nudez provoca. Tampouco uma revisão do conservadorismo opressor.
Também não seduz. Apenas aquele mocinho no início da puberdade cujo turbilhão hormonal o transforma num moto-contínuo de excitação sexual pode ser conquistado pela nudez. Ainda assim, por pouco tempo: em breve, ele descobrirá que a graça está naquilo que ele não pode ver ou tocar.
Nas revistas que folheia com avidez, as moças estão sempre de lado, ou com uma mão protegendo aqui, uma pluma protegendo acolá.
Não é por pudor que elas posam assim.
Mas porque sabem que a nudez real e crua, assim exposta, escancarada diante do outro, geraria apenas frustração.
Eis o meu corpo, e ele é triste.
A nudez exibe toda a minha fragilidade, que é o espelho da sua fragilidade. Quando caem os panos, caem os símbolos. Não há status que se manifeste sem acessórios: na tribo de homens nus, o chefe vai colocar na cabeça uma pena que o diferencie do resto. Tire-lhe a pena, e ele retorna ao anonimato da multidão.
Nus, somos todos carne e ossos e cicatrizes.
Alguns fortes, outros fracos. Sempre vulneráveis.
Jovens e velhos. Sempre efêmeros.
Belos e feios _jamais poupados da insegurança e do medo da rejeição.
Eis o sentimento que a provocativa nudez provoca.
Cubramo-nos, pois, enquanto há tempo.

4 comentários:

Anônimo disse...

O ser humano tem um quê de cebola, cheio de camadas para preservar a nudez do corpo e da alma! (PS. Comentário de quem está com insônia e dor na coluna às 5 da matina) Beijim!

Mariana disse...

A nudez nos iguala na tristeza de sermos iguais, perecíveis, vulneráveis e sem sentido. Caraca, Ílis... Agora vou ter de tomar mais uma pílula azul... ;)
Bjos!

Anônimo disse...

Sobre a nudez e a roupa, sempre lembro de uma frase francesa sensacional, sobre as pedras das ruas parisienses:

"Por debaixo do calçamento, a praia"

Essa peladona aqui adora o pensamento de que, independente das roupas, ela continua nua.

Reconfortante, não?

Estava com saudade dos seus textos. Beijo.

Ilis disse...

eita, a nudez da alma, Débora... bote camadas nisso. e, no fim, o que sobra? acho que nós somos "as camadas", não é não?

mari, mulher, a intenção não era essa! abaixo a pílula azul.
pró-nudez da alma!
vixi...

cacau, tu és uma despudorada!
graças a deus!
saudade de ti e é muita muita muita.

bjs às três belas meninas.