domingo, 14 de outubro de 2007

Para fazer um samba com beleza

Ficou surpresa ao saber que ele acompanhava seus textos. O blog parecia estar às moscas, nenhum comentário há meses _não que isso fosse ruim; havia, na verdade, permitido que ela se sentisse confortável para ser completamente sincera.
"Você é exatamente como imaginei", ele disse.
"?", ela pensou.
Assim que chegou em casa, ela foi rever o que havia escrito. Na verdade, saber o que ele havia lido e tentar adivinhar o que ele havia imaginado.
"Fudeu...", os textos eram tão melancólicos que ela parecia uma velha amarga e deprimida bem dizer à beira do suicídio.
No sábado seguinte, apareceu com uma blusa florida, de cores berrantes, e umas três ou quatro piadas na ponta da língua. Mas ele não estava lá.
Esbarrou com o moço dias depois, na saída do cinema. Para seu azar, porém, havia acabado de assistir "Amores brutos", e seus olhos inchados de tanto chorar não faziam senão confirmar sua hipotética infelicidade.
Na terceira vez que se encontraram, ela estava tão bêbada que nem se lembrava do que havia acontecido. E o mais provável era que não tivesse acontecido nada, já que, sempre que bebia demais, ela apenas ficava sentada num canto, 100% jururu, com o olhar perdido num ponto qualquer. Mardita cana.
Então soube que ele estaria na festa do primo da amiga do vizinho de fulano. Preparou seu melhor sorriso e foi. Mais uma vez, a blusa colorida. Os cabelos presos num rabo de cavalo assim à toa, para dar aquele ar leve, de gente despreocupada e de bem com a vida. Tocava Madonna e ela pensou "legal! Madonna é alegria e diversão" e algo do tipo "a noite promete". Mirou e apontou: ele.
Ele, o tal, beijava demoradamente uma menina ruiva, alta e magra.
Quando enfim parou para recuperar o fôlego, viu a morena baixinha que olhava em sua direção e que, desta vez, não fazia nenhuma questão de disfarçar a tristeza.
"Holiday, Celebration
Come together in every nation"
Assim que chegou em casa, ela acendeu um cigarro, ligou o computador e voltou a escrever no blog.

4 comentários:

Anônimo disse...

é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba não...
adorei! confesso que me identifiquei, hem...

Ilis disse...

a gente é meio parecidinha merrmo...
;)
bj

Simone Iwasso disse...

ai, ilis, vc e sua lente de aumento que pega pequenos relances e transforma em lirismo...

Ilis disse...

brigado, Si!