quinta-feira, 12 de abril de 2007

Canção de ninar

Então é isso mesmo: nós duas nessa Babilônia, gritando gritando e sem ninguém pra ouvir. E quem escuta, não entende. Já reparou? Às vezes eu penso que o melhor era calar uma vez. Será? Sei lá, não consigo. E sigo brigando, berrando e tentando não ceder à raiva de me sentir tão invisível. A gente está trocando os pés pelas mãos, só pode ser. A culpa é nossa. Mas como é o certo?
Gente, eu já tentei de tudo. Eu tatuei o corpo inteiro e em cada imagem está escrita a mesma coisa. A mesma coisa. Sempre a mesma coisa. Eu criei um blog, eu criei um fotolog, eu mandei cartas para essas seções de jornal. Eu tentei pichar o muro da escola na qual estudei mas não consegui _será que esse foi meu ponto fraco?
Eu entreguei a prova em branco.
De propósito, sim.
Tanta coisa berrando ali: eu não quero essa vida. não quero fórmulas. não quero vestibular-formatura-trabalho-cafezinho-hora-extra-aluguel-previdência-tvdeplasma-e-o-cacete.

não quero cineminha-seguido-de-pizza-no-domingo-seguida-de-insônia-pensando: é segunda, é segunda, é segunda-ainda-faltam-cinco-dias-até-sábado.
nem luz-apagada-carícia-cansada-sexo-triste-seguido-de-insônia-pensando: e o amor? e o amor?
e o amor?
Zero.
E eu sei que é muito fácil de repente desistir e aceitar tudo. A gente nessa pindaíba sem qualquer expectativa de um nada e a um passo de pedir dinheiro pra família _agora sim, o fundo do poço: que eu tirei zero e reprovei e ainda assim fui pra Disney nas férias e abracei o Mickey e comprei canetinhas no free-shop tão contente da vida e eu tenho tanto medo disso. Tanto.
Você não se apavora? De subitamente se perder de si mesma e ser feliz dessa felicidade que já vem embrulhada pra presente? Ou você acredita tanto assim em si mesma? E em mim?
Quando a gente começa a cantar lá no terraço eu acredito.
Quando você cria mais uma dessas melodias tão suaves e delicadas eu sei que tudo está certo e que é tão simples. Sinto que você vai encontrar o seu caminho, que eu vou saber amar, que o mundo inteiro _todo-todo_ pode abrir os braços e nos abraçar tão forte que é como se nunca houvéssemos sequer nascido. Aí eu vou cantarolando tudo o que vêm à mente e sinto que a música sempre esteve ali, só esperando a gente subir ao terraço para tudo aquilo ser dito e todo mundo entender. E do alto do prédio ela se espalha sobre toda a cidade, como uma manta de lã quentinha.
E eu quase esqueço as buzinas.
Quase.

3 comentários:

Simone Iwasso disse...

eu tenho medo sim, morro de medo. e esse texto me deu uma sensação que encontro com autores que gosto - olha só, vc já virou uma - que é a de ler o que gostaria de ter escrito, ou o contrário, querer escrever algo e não saber como, e me deparar com esse algo ali, manifesto, concreto e bem resolvido... aquele texto que coloquei no blog, do el pais, falava justamente sobre isso!

Ilis disse...

Transamento de pensação, como diz um amigo meu.
:)

Obrigada, de verdade.

Cacau Pantoja disse...

Eu também queria tanto desistir de tudo. O problema é que isso me parece tão inútil quanto aceitar tudo. Todos os caminhos estão errados?

O pior é não ter vontade de descobrir.