quarta-feira, 21 de março de 2007

Mi hermana

Nós duas estávamos sentadas no sofá. Azuis os sapatinhos dela, assim como os meus. Florido o meu vestido, e também o dela. Os laçarotes escarlates nos cabelos. As mãozinhas dadas. Ela tremia. Eu tremia.
- Quem foi? - ele perguntou. A voz ecoou pela sala.
Em silêncio, ambas. Apenas o coração, em velocidade idêntica, como se latejasse não no peito, mas na cabeça, e eu ouvia tum-tum tum-tum tum-tum tum-tum... Foi ela foi ela foi ela foi ela, mãezinha, socorro, meu Deus, foi ela... Eu vi.
- Quem foi? - ele gritou.
Eu vi, eu não queria ter visto, mas acordei assustada, sentindo no peito o medo dela, como nos pesadelos, a gente sonha igual, mas nos sonhos somos sempre uma só. Eu levantei da cama, eu abri a porta, eu vi.
- Quem foi? - ele explodiu.
Eu não digo. Entrelaçamos os dedos. Eu não digo.
- Foi ela. _ela soltou meus dedos e repetiu com a vozinha fina_ Foi ela.
Eu me virei mas nem consegui ver o rosto dela, tudo branco e brilhante de repente e um zumbido que vinha de longe, que nem um besourinho... Do resto eu não lembro.
Está vendo essa cicatriz aqui no meu rosto?
É a única diferença que existe entre nós.

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